Umbanda
Há de se entender, antes de qualquer explicação, que a UMBANDA é uma religião, ou seja, é composta de elementos Divinos (Orixás e Guias); Doutrinários (linhas de atuação, reencarnação, lei do Karma, atuação e direcionamento dos médiuns, assistenciados e guias, ...; Princípios (amor, caridade, respeito ao próximo, fé, ...); Rituais (abertura e encerramento das sessões, pontos cantados, feituras, ...); Místicos (a forma de atuação dos Orixás e Guias); Divinatórios (jogo de búzios, ...) Humanos (seus médiuns, Babás, Babalorixas, Sacerdotes, ...).
Cabe salientar que esses elementos são variáveis e podem ser vistos com mais ou menos intensidade de acordo com a linha doutrinária da casa (Linhas doutrinárias ou Escolas Doutrinárias). Como são muitas as ramificações e suas formas, isso torna difícil agrupá-las em suas peculiaridades, ritos, doutrina, fundamentos, filosofia, práticas. Pretendemos olhar de maneira geral os elementos mais comuns a cada ramificação dentro do possível.
A UMBANDA é uma religião de cunho espiritualista (contato é interferência de espíritos, manipulações magísticas, práticas de cura através dos espíritos é ervas, poções, conjuros, utilização de elementos ou instrumentos místicos)/mediúnica (instrumento pelo qual a prática religiosa se faz presente, especificamente, a incorporação) que agrega elementos de bases africanas (culto aos Orixás e ao espírito dos antepassados: Pretos-Velhos), indígenas (Caboclos), que recebeu influência oriental (indiana, inerente à reencarnação, o Karma e o Dharma), e adquiriu elementos do cristianismo (judaísmo) como a caridade, o auxilio ao próximo e outros ditos por Jesus Cristo que no sincretismo religioso (associação dos Santos Católicos aos Orixás africanos) consideramos como o Orixá Oxalá.
O vocábulo "Umbanda" só pode ser identificado dentro das qualificadas línguas mortas. Todavia, entre os angolenses existe o termo "Quimbanda", que significa "sacerdote, invocador de espíritos", firmado no radical u manda, conservado através de milênios, legado de tradição oral da raça africana, o qual é uma corruptela do original u-banda ou aum-bandhã.
"Toda essa complexa Mistura, que o leigo chama de macumba, baixo espiritismo, magia negra, envolvendo práticas fetichistas e barulhentas... era a situação existente, quando surgiu um vigoroso movimento de luz, ordenado pelo astral superior, feito pelos espíritos que se apresentavam como Caboclos Pretos Velhos e Crianças. Surgiram práticas as mais confusas e desordenadas, envolvendo oferendas com sacrifício de animais, sangue, etc., e por isso tudo se fez imprescindível um novo movimento dentro desses cultos ou de sua massa de adeptos, feito pelos espíritos carminantes afins a essa massa e pelos que, dentro de afinidades mais elevadas, se aplicam no amor e na renúncia em prol da evolução de seus semelhantes, o qual foi lançado através da mediunidade de uns e outros pelos Caboclos e Pretos Velhos, com o nome de umbanda. O termo umbanda que eles implantaram no meio para servir de bandeira a essa poderosa corrente (ensinaram que) é uns termos litúrgicos, sagrados, vibrado, que significa", Num sentido mais profundo, o conjunto das leis de Deus ".
A Umbanda é um "movimento mágico religioso", genuinamente brasileiro, e a sua finalidade primordial como religião é o de despertar anseio de espiritualidade na criatura humana. Para que esse despertamento se faça, torna-se necessário um permanente estado de religiosidade, onde toda vivência é baseada na compreensão e plena sensibilidade (não sentimentalismo), para com tudo e todos que nos cercam e compõem a humanidade.
A Umbanda é uma doutrina espiritualista como o Espiritismo, o Catolicismo, o Esoterismo, etc... O que não impede de haver entre elas diferenças essenciais que lhe dão características próprias. É resultante natural da fusão espiritual das raças branca, índia e negra.
Sua lei principal é resumida numa só palavra: CARIDADE - no sentido do amor fraterno em benefício dos seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social, não podendo haver ambicioso, vaidoso, mistificadores, pois estes, mais cedo ou mais tarde, são afastados da Umbanda pelos espíritos de luz.
A Umbanda não foi codificado, como foi o kardecismo em sua origem por Hippolyte Leon Denizart Rivail (Livro dos espíritos, Livro dos médiuns, Evangelho Segundo Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese) a Umbanda foi manifestada e o kardecismo esclarecido, por isso tem muito a aprender com o Kardecismo sobre esclarecimento e ele muito a aprender conosco sobre manifestação.
Costumo dizer que se não temos uma "Bíblia Umbandista", todos os livros sagrados da humanidade são nossos, para extrairmos o que eles tiverem de melhor, temos a liberdade de estudar a Bíblia Cristã, a Tora (Judeu), O Alcorão (Muçulmano), O Tão, I Ching (Chinês), O Zend Avesta (Persa), Os Vedas (Hindu) e tantos outros.
- Não temos 10 mandamentos Católicos, mas nos basta apenas um mandamento: "Amar ao próximo como a si mesmo e Deus acima de todas as coisas"
- Não temos sete pecados capitais (gula, avareza, inveja, ira, luxuria, orgulho e preguiça) porque não acreditamos em pecado, mas cremos em vícios e virtudes, nos sete sentidos da vida (Fé, Amor, Conhecimento, Justiça, Lei, Evolução e Geração) dentro de nosso livre arbítrio, onde o que se volta para o ego torna-se vicio.
- Não temos dogma nem tabu, pois no Umbanda ninguém é obrigado a aceitar nada, mas o conhecimento vai sendo absorvido naturalmente e da mesma forma a própria religião evolui e se adapta.
Não é uma seita religiosa, é religião, portanto tem seus fundamentos próprios que devem ser esclarecidos. O conceito de seita é muito antigo e vem da época em que havia religiões oficiais, onde aqueles que se opunham de alguma forma àquela liturgia, formando grupos dissidentes, eram chamados de seitas e, portanto considerados "hereges", à margem da sociedade... Podemos e devemos absorver o conhecimento de outras religiões, ampliando assim nosso universo espiritual. Na verdade temos a aprender com todos e todos têm a aprender conosco, quando a única religião for o Amor, o que existirão serão prática diferente deste Amor, Umbanda é a nossa prática do Amor. Cada um ou cada grupo umbandista realiza seus trabalhos, sessões, segundo seu ponto de vista, sem deixar de ser umbanda. Cada casa, templo ou tenda é diferente um do outro e todos são centros ou "igrejas de umbanda". O que há em comum é a essência e não a forma!
Origens
Existem algumas versões para a origem da umbanda. Tentaremos mostrar uma face dessa origem, salientando que não importa as formas variáveis da origem, e sim, como ela atua e o que têm em comum: sua essência. O início do movimento Umbandista se coloca entre a primeira e a segunda metade do século XIX, junto ao candomblé.
Os negros nas senzalas cantavam e dançavam em louvor aos Orixás, embora aos olhos dos brancos eles estavam comemorando os Santos católicos. Em meio a essas comemorações eles começaram a incorporar espíritos ditos Pretos-Velhos (reconhecidos como espíritos de ancestrais, sejam de antigos Babalaôs, Babalorixás, Yalorixás e antigos "Pais e Mães de senzala": escravos mais velhos que sobreviveram à senzala e que, em vida, eram conselheiros e sabiam as antigas artes da religião da distante África) que iniciaram a ajuda espiritual e o alívio do sofrimento material, àqueles que estavam no cativeiro.
Embora houvesse uma certa resistência por parte de alguns, pois consideravam os espíritos incorporados dos Pretos-Velhos como Eguns (espírito de pessoas que já morreram e não são cultuados no candomblé), também houve admiração e devoção.
Com os escravos foragidos, forros e libertados pelas leis dos Ventres Livres, Sexagenários e posteriormente a Lei Áurea, começou-se a montagem das tendas, posteriormente terreiros.
Em alguns Candomblés também começaram a incorporar Caboclos (índios das terras brasileiras como Pajés e Caciques) que foram elevados à categoria de ancestral e passaram a ser louvado. O exemplo disso são os ditos "Candomblés de Caboclo". Muito comuns no norte e nordeste do Brasil até hoje.
No início do séc. XX surgiram as Macumbas no sudeste do Brasil, mas precisamente no Rio de Janeiro (sendo que também existiam em São Paulo) que mesclavam ritos Africanos, um sincretismo Afro-católico e outros mistos magísticos e influências espíritas (kardecistas). Isso era feito isoladamente, por indivíduos e seus guias, ou em grupamentos liderados pelo Umbanda ou embanda que era o chefe de ritual.
De certa forma, com o passar do tempo, tudo que envolvia algo que não se enquadrava no catolicismo, protestantismo, judaísmo ou no espiritismo, era considerado macumba. Virou um termo pejorativo e as pessoas que a praticavam, o que podemos rotular como uma "Umbanda rudimentar", não estavam muito interessadas ou preocupadas em dar-lhe um nome. Porém, o termo Umbanda já era utilizado dentro de uma forma de culto ainda meio dispersa e sem uma organização precisa como vemos hoje.
A mais antiga referência literária e denotativa ao termo Umbanda é de Heli Chaterlain, Contos Populares de Angola, de 1889. Lá aparece a referência à palavra umbanda.
UMBANDA: Banto - Kimbundo = arte de curar.
Segundo Heli Chatelain, tem diversas acepções correlatas na África (ref: Cultura Bantu):
1. A faculdade, ciência, arte, profissão, negócio:
- De curar com medicina natural (remédios) ou sobrenatural (encantos);
- De adivinhar o desconhecido pela consulta à sombra dos mortos ou dos gênios, espíritos que não são humanos nem divinos;
- De induzir esses espíritos humanos que não são humanos a influenciar os homens e a natureza para o bem ou para o mal;
Com o passar do tempo a Umbanda foi se individualizando e se modificando em relação ao candomblé, ao Catolicismo e ao Espiritismo. Através dos Pretos-Velhos e Caboclos, que guiaram seus "cavalos" (médiuns), a Umbanda foi adquirindo forma e conteúdo próprios e característicos (identidade cultural e religiosa) e que a decência daquela "Umbanda rudimentar" ou Macumba.
A incorporação de guias de Umbanda também ocorreu em outras religiões além do Candomblé, como foi no caso do espiritismo. Em 1908, na federação espírita, em Niterói, um jovem de 17 anos, Zélio Fernandino de Moraes, foi convidado a participar da Mesa Espírita. Ao serem iniciados os trabalhos, manifestaram-se em Zélio espíritos que diziam ser de índio e escravo. O dirigente da Mesa pediu que se retirassem, por acreditar que não passavam de espíritos atrasados (sem doutrina).
As entidades deram seus nomes como Caboclo das Sete encruzilhadas e Pai Antônio. No dia seguinte, as entidades começaram a atender na residência de Zélio todos àqueles que necessitavam, e, posteriormente, fundaram a Tenda espírita Nossa Senhora da Piedade.
Zélio foi o precursor de um "trabalho Umbandista Básico" (voltado à caridade, assistencial, sem cobrança e sem fazer o mal e priorizando o bem), uma forma "básica de culto" (muito simples), mas aberta à junção das formas já existentes (ao próprio Candomblé nos cultos Nagôs e Bantos, que deram origem às Umbandas mais africanas - Umbanda Omoloko, Umbanda de pretos-velhos-; ou aquelas formas mais vinculadas ao espiritismo - Umbanda Branca-; ou aquelas formas oriundas da Pajelança do índio brasileiro - Umbanda de Caboclo -; ou mesmo formas mescladas com o esoterismo de Papus - Gérard Anaclet Vincent Encausse -, esoterismo teosófico de Madame Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891), de Joseph Alexandre Saint-Yves d´Alveydre - Umbanda Esotérica, Umbanda Iniciatica, entre outras) que foram se mesclando e originando diversas correntes ou ramificações do Umbanda com suas próprias doutrinas, ritos, preceitos, cultura e características próprias dentro ou inerentes à prática de seus fundamentos.
Hoje temos várias ramificações da Umbanda que guardam raízes muito fortes das bases iniciais, e outras, que se absorveram características de outras religiões, mas que mantém a mesma essência nos objetivos de prestar a caridade, com humildade, respeito e fé.
Alguns exemplos dessas ramificações são:
- Umbanda tradicional - Oriunda de Zélio Fernandino de Moraes;
- Umbanda Popular - Que era praticada antes de Zélio e conhecida como Macumbas ou Candomblés de Caboclos; onde podemos encontrar um forte sincretismo - Santos Católicos associados aos Orixás Africanos "";
- Umbanda Branca é de Mesa - Com um cunho espírita - "kardecista" - muito expressivo. Nesse tipo de Umbanda, em grande parte, não encontramos elementos Africanos - Orixás -, nem o trabalho dos Exus e Pombas giras, ou a utilização de elementos como atabaques, fumo, imagens e bebidas. Essa linha doutrinaria se prende mais ao trabalho de guias como caboclos, pretos-velhos e crianças. Também podemos encontrar a utilização de livros espíritas - "kardecistas - como fonte doutrinária";
- Umbanda Omolokô- Trazida da África pelo Tatá Tancredo da Silva Pinto. Onde encontramos um misto entre o culto dos Orixás e o trabalho direcionado dos Guias;
- Umbanda Traçada ou Umbandomblé- Onde existe uma diferenciação entre Umbanda e Candomblé, mas o mesmo sacerdote ora vira para a Umbanda, ora vira para o candomblé em sessões diferenciadas. Não é feito tudo ao mesmo tempo. As sessões são feitas em dias e horários diferentes;
- Umbanda Esotérica- É diferenciada entre alguns segmentos oriundos de Oliveira Magno, Emanuel Zespo e o W. W. da Matta (Mestre Yapacany), em que intitulam a Umbanda como a Aumbhandan: "conjunto de leis divinas";
- Umbanda Iniciatica- É derivada da Umbanda Esotérica e foi fundamentada pelo Mestre Rivas Neto (Escola de Síntese conduzida por Yamunisiddha Arhapiagha), onde há a busca de uma convergência doutrinária (sete ritos), e o alcance do Ombhandhum, o Ponto de Convergência e Síntese. Existe uma grande influência Oriental, principalmente em termos de mantras indianos e utilização do sânscrito;
- Umbanda de Caboclo - influência da cultura indígena brasileira com seu foco principal nos guias conhecidos como "Caboclos";
- Umbanda de pretos-velhos - influência da cultura Africana, onde podemos encontrar elementos sincréticos, o culto aos Orixás, e onde o comando e feito pelos pretos-velhos;
- Outras formas existem, mas não têm uma denominação apropriada. Diferenciam-se das outras formas de Umbanda por diversos aspectos peculiares, mas que ainda não foram classificadas com um adjetivo apropriado para ser colocado depois da palavra umbanda.
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